A Fundação OS NOSSOS LIVROS, instituída por testamento pelo Doutor Artur Águedo de Oliveira, (1894-1978), erudito político transmontano natural de Torre de Moncorvo, falecido sem descendência direta e detentor de razoável fortuna, tem a sua sede em Bragança, na R. Trindade Coelho, nº 32, num imóvel de traça arquitetónica nobiliárquica do séc. XVIII, adquirido pela Câmara Municipal de Bragança. Efetivamente, por vontade expressa do seu fundador, a sua especializada biblioteca, constituindo um dos mais valiosos acervos culturais do norte do país, deveria ser assegurada num espaço arquitetónico plausível com as normas de salvaguarda e preservação deste copioso património documental, generosamente doado à cidade de Bragança, cidade que plenamente assumiu o princípio da sua responsabilidade patrimonial, deduzível dos seus Estatutos elaborados em 15 de março de 1979.
A comissão instaladora da Fundação OS NOSSOS LIVROS e, designadamente, aquela que elaborou os seus Estatutos, interpretando a vontade claramente expressa, e pormenorizada, do Doutor Artur Águedo de Oliveira, no seu testamento, datado de 1973, registado no Cartório Notarial de Bragança, cerrado e lacrado até ao dia 31 de maio de 1978 (o doador faleceu no dia 29 do mesmo mês, por doença que o hospitalizara em Setúbal, cidade onde tinha familiares afastados), foi constituída pelas seguintes entidades bragançanas: Governador Civil, Eng. Manuel Taborda Guerra Junqueiro, Presidente da Câmara Municipal, Capitão Eng. José Luís Gomes Pinheiro, o sacerdote Belarmino Afonso, em representação do Bispo da Diocese, e o Licenciado Eduardo Augusto de Carvalho, professor do ensino liceal, com poderes de gestão administrativa e cultural.
Os referidos Estatutos, datados de 15 de Março de 1979, redigidos em Bragança, no Cartório Notarial desta mesma cidade, são constituídos por 17 Artigos, determinando como Órgãos da Fundação: uma Direção, presidida pelo Presidente da Câmara Municipal e um Conselho Fiscal, sendo os seus titulares indigitados de acordo com as disposições testamentárias do Fundador.
A Fundação OS NOSSOS LIVROS é uma pessoa coletiva de direito privado, conforme publicação no Dário da República, IIª Série, nº284 de 10/12/1980. A comissão instaladora demorou alguns anos, até à instalação definitiva no atual edifício da sua sede, situada na zona histórica de Bragança, porque sempre se pautou pelas exigências testamentárias do Doutor Artur Águedo de Oliveira, na procura do cumprimento dos princípios por ele exarados, derivando apenas certas restrições, nelas contidas, de algumas insuficiências financeiras para a prossecução dos objetivos que o conceito de Biblioteca como instituição de educação pública exige, como sejam, a atualização dos indispensáveis meios tecnológicos informativos e de pesquisa, reprodução de documentos, e as relações interbibliotecárias.
Assim, o espólio bibliográfico do Doutor Águedo de Oliveira (proveniente das suas três residências, respetivamente em Lisboa, Macedo de Cavaleiros e na Quinta das Eiras, Horta da Vilariça, em Trás-os-Montes), esteve, numa primeira fase, instalado no edifício devoluto da Escola do Magistério Primário, na Rua 1º de Dezembro, nº8, depois foi transferida para o antigo edifício da Câmara Municipal, na Rua Abílio Beça nº75 e, finalmente, cumprindo a intenção original do seu fundador, para um espaço qualificado como é o atual, na Costa Grande, que é uma das ruas de acesso à cidadela amuralhada, também designada por antiga vila (conjunto urbano circundante do Castelo Medieval).
O seu edifício, ostentando no ângulo superior da cornija, o brasão oitocentista do cunho da família Teixeira, atrai turistas e visitantes, esporádicos, sem descurar o habitual público da cidade que corresponde com a sua presença e, até, pelo seu patrocínio, a uma regular planificação cultural (conferências, apresentação de livros, exposições de arte, convívios educativos integrados no meio urbano institucional, como por exemplo as juntas de freguesia, as obras de carácter social e os centros escolares mais próximos). Sendo Bragança uma cidade de uma acentuada população flutuante (de estudantes, no inverno, e de turistas e emigrantes portugueses, no verão), os programas culturais que têm lugar na Fundação OS NOSSOS LIVROS chegam a públicos diversos, encarando o desafio e a oportunidade de globalizar, cada vez mais, a cultura através do livro, equilibrando os níveis de erudição em pessoas de todas as idades, ou, se não for atingida esta erudição, iniciar-se na aprendizagem emocional de relembrar os espaços antigos que são a memória da pequena cidade que Bragança outrora foi. Neste sentido, como em todo o contexto funcional da Fundação OS NOSSOS LIVROS, ela é a convergência da orientação cultural e do perfil atuante da Câmara Municipal de Bragança, sem a qual a Fundação não teria disponibilidade de funcionamento, nem perspetivas de progresso.
O Edifício possui uma estrutura adaptada aos fins a que se destina: rés-do chão, onde, além da Receção e do Átrio, existe uma sala, polivalente, de exposições; primeiro andar, no qual, além da área administrativa, se localiza uma ampla sala de leitura e de conferências, e um espaço menor, sala de reuniões, trabalhos de grupo para estudantes, realização de planos curriculares regionalistas, de projetos culturais, etc.; no terceiro andar, situam-se as coleções de acesso especificamente destinado a investigadores, e fundos submetidos a reserva de consulta.
A Biblioteca da Fundação OS NOSSOS LIVROS, dada a formação intelectual e política do Doutor A. Águedo de Oliveira, Ministro das Finanças do Estado Novo, disponibiliza um largo acervo bibliográfico de Economia, Finanças, História das Doutrinas Económicas, Agricultura, Ruralismo, Demografia, Estatísticas, Sociologia, Literatura Ultramarina, Relações Internacionais, Política Colonial, Direito, Estruturas Politicas características do Estado Novo e do Salazarismo, desde 1928 até, inclusivamente post. - 25 de abril. Existe nesta sua biblioteca, de sua propriedade pessoal, um espólio bibliográfico de raiz erudita (séc. XVI, XVII e XVIII), de literatura clássica, assim como uma notável coleção camoniana. A sua coleção de livros, abrangia, na generalidade, todas as obras que absorviam a projeção política que o mundo português pretendeu alcançar na época salazarista. A História de Arte, a Literatura Portuguesa Clássica, a Filosofia Política, na sua evolução histórica, consubstanciam a sua ideologia e alicerçaram a sua prática política, nacional e internacionalmente exercida, plasmada no decurso do seu currículo profissional.